
“Um Portugal profundo e obscuro, fechado sobre si mesmo e desconfiado de tudo o que lhe parecia estranho ou alheio, resistia a cada tentativa de reforma, a cada apelo cívico à “cidadania”, e ignorava por completo as vantagens da “civilização das luzes” sobre as antiquíssimas trevas em que se habituara a viver. Pelo contrário, desde há uns anos que não parava de crescer o número dos que, todos os meses de Maio, seguiam em romaria até à aldeia estremenha de Fátima, onde uma absurda crença popular pretendia que Nossa Senhora tinha aparecido a três jovens miseráveis pastores, flutuando sobre uma azinheira e prometendo “a salvação de Portugal” e “a conversão” da nascente Rússia bolchevique.
Fora alguns restritos círculos político-intelectuais da capital ou do Porto, ignotas tertúlias de cidades do interior e alguma oficialidade dos destacamentos militares aí sediados, nenhuns outros portugueses seguiam com atenção ou sequer entendiam os floreados absurdos dos discursos dos deputados que supostamente os representavam no Parlamento de Lisboa ou a grandiosidade oca dos debates que aí ocorriam.”
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